Eleições 2024: nomes temos, mas e projeto de cidade?

A eleição se tornou um concurso de miss, de popularidade. O projeto não está mais em pauta na democracia

Por Marcolino Joe [*]

No Brasil, escolher representantes políticos tornou-se um exercício de reconhecimento de rostos, enquanto os ideais e propostas se perdem na penumbra do esquecimento. Esse vazio existencial é resultado de um processo histórico. Em 1989, o cientista político e economista americano Francis Fukuyama publicava seu famoso artigo O fim da história? Na revista The National Interest. Nele, argumentava que a difusão mundial das democracias liberais e do livre capitalismo de mercado possivelmente sinalizavam o fim da evolução sociocultural da humanidade.

Infelizmente vemos não existir mais um projeto de emancipação coletiva e igualitária. Vivemos o ápice da máxima de Thatcher: “não existe sociedade, existe indivíduo”. O cada um por si eleito pela vontade popular, a pedagogia do nosso tempo.

Javier Milei, por exemplo, é um produto genuíno das redes sociais, nascido da viralização e dos cortes do WhatsApp. Ele emerge deste novo paradigma político. Há uma sofisticação e diversificação nos modos de recrutamento político online com o crescimento dos reels do Instagram e do TikTok. Isso torna o cenário do processo eleitoral desolador e seria distópico se não retratasse a pura realidade.

Olhemos para Aracaju: uma capital jovem, planejada, que poderia almejar ser uma cidade cosmopolita, laboratório de novidades no campo do urbanismo, espaço frutífero com uma cultura viva e pulsante. Infelizmente, a última vez que vimos algum projeto que ousasse ir além dos monótonos discursos de “ouvir as pessoas”, foi na primeira gestão de Marcelo Déda.

Estamos em um ciclo de seca de representantes dignos do cargo. Por todo o mundo, o que se vê é a ascensão da anti-política, capitalizada pela extrema direita, que apresenta “outsiders” que surfam no descontentamento popular com aquele papo furado de ser “contra o sistema”. Na cidade dos cajueiros e papagaios progresso é asfalto e ponte. Um museu de grandes novidades emoldurada com verniz de baixa qualidade.

Características como competência, inteligência e capacidade dos governantes estão sendo desprezadas. As pessoas são levadas a escolher alguém com quem se identifiquem e só. A dádiva da democracia representativa é também seu veneno. Depois do carnaval veremos muita gente aparecendo, tirando foto, criando grupos e listas de transmissão no whatsapp dizendo que Aracaju deve avançar. A questão que fica é: pra onde e, principalmente, pra quem?

[*] Estrategista, cineasta e comunicador popular

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