Novos caminhos? Para aonde?

Artigo escrito pelo professor Francisco Emanuel sobre o cenário político de Aracaju

Por Francisco Emanuel Silva Meneses Alves [*]

2024 chegou sendo gestado desde 2022 sem dúvida, mas traz algumas apostas também.

O tetra-prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) vem com Luiz Roberto (PDT), ex-presidente do Confiança, clube muito popular no estado. Secretário de infraestrutura do estado e candidato a deputado federal do prefeito em 2022, Luís demonstra comprometimento e trabalho por onde passa, mas até então as sondagens eleitorais na capital e o teste de vinte e dois não o favorecem.

Acredita-se que terá o apoio aberto do governador Fábio Mitidieri (PSD) no primeiro turno da eleição de 2024. Ainda não sabemos quem terá como vice.

A experiente deputada federal Katarina Feitosa (PSD), com trabalho destacado no Interior do estado e tendo exercido cargos na SSP de confiança administrativa se elegeu vice de Edvaldo em 2020 e foi uma aposta pessoal do ex-governador Belivaldo Chagas (PSD) em 2022. Atua em importantes comissões na Câmara Federal, não sai dos municípios, dialoga com todos que a procuram e parece estar preparada e bem a vontade para continuar onde está ou alçar novos voos político.

A também deputada federal Yandra Moura (UNIÃO BRASIL) filha do ex-deputado federal de Sergipe e secretário do governo do Rio de Janeiro André Moura, neta do já falecido ex-deputado Reinaldo Moura e da também ex-deputada Lila Moura e além de filha da atual prefeita reeleita de Japaratuba Lara Moura candidatou-se pela primeira vez em 2022 e já foi a deputada mais votada da história do estado. Yandra tem um programa de TV na TV Atalaia, mudou seu título para Aracaju, segue com seus “novos caminhos para Aracaju” e além de não sair dos municípios parece estar a vontade com o cargo. Detalhe: Yandra também tem votos de parte da direita bolsonarista. Votou no ex-presidente no primeiro e no segundo turno e trabalhou por votos para ele.

O apresentador, empresário, ex-deputado estadual e vereador Fabiano Oliveira (PROGRESSISTAS) tem o apoio do senador Laércio Oliveira (PROGRESSISTAS) e da cúpula nacional do partido. Simpático, experiente e bem relacionado, Fabiano tem vontade e demonstra disposição para disputar a prefeitura de Aracaju.

A delegada e secretária Daniele Garcia (MDB) tem o apoio do fiel escudeiro (e vice-versa) Senador Alessandro Vieira (também do MDB) e tem feito um trabalho permanente, presente e entusiasmado a frente da Secretaria Estadual da Mulher. Competitiva em 2020 e em 2022 Daniele ampliou seus diálogos, alianças e eleitorado em potencial desde sua primeira campanha. Consegue ter votos desde a direita lava-jatista, do bolsonarismo até a centro direita além de ter saído de expressão desse lavajatismo para uma versão leve de abertura a novas ideias, conversas e resolutividade política.

A vereadora Emília Correia corre com larga vantagem à direita. Em seu PRD, herdeiro do 25 do antigo DEM do ex-governador João Alves Filho a Edil tem talento para a comunicação, presença nas igrejas, ruas e comunidades, carisma, atenção e posicionamentos firmes.

Por uma desventura legal não se tornou deputada federal em 2018. Em 2022 foi vice de Valmir de Francisquinho (PL) numa chapa montada para a defesa do ex-prefeito de Itabaiana que sabia que teria vida difícil para manter sua candidatura.

Se apoiasse Emília, talvez tivesse produzido uma reviravolta maior do que imaginava naquele pleito marcado pelo carisma e pelo reconhecimento da administração de Valmir em Itabaiana diante do funcionalismo e das melhorias na cidade reconhecida pelo orgulho que tem de si, pela rejeição ao grupo do ex-governador Belivaldo Chagas e pela cara torcida de várias partes com o senador Rogério Carvalho.
Diga-se de passagem que Valmir já tinha dito que gostaria de Votar no aventado candidato Conselheiro do Tribunal de Contados do Estado e ex-deputadp estadual Ulices Andrade, no próprio Fábio Mitidieri (eleito governador em 2022) e acabou indo ao segundo turno com o audaz e incisivo senador petista.
Valmir sempre foi do PR/PL e Bolsonaro quem chegou depois, como o próprio Itabaianense disse, Rogério, João Daniel (PT) e Cia. já circulavam em eventos com Adailton (PL) em Itabaiana seja apoiando as investidas de Valmir seja esperando contar com ele.

Valmir decepcionou os bolsonaristas, não incomodou os “valmiristas” e dificilmente os que rejeitavam o indicado de Belivaldo (mais pela indicação do que pelo próprio candidato). Rogério nem rejeitou nem perdeu votos pelo apoio de Valmir.

Aqui Valmir é maior do que Bolsonaro e Rogério briga em tamanho e em articulação com o PT, além de claro dizem que com qualquer restante de consistência ideológica do partido.

Emília é mulher, cristã, de direita, carismática e tem a simpatia de Rodrigo Valadares, Valmir e do “bolsonarismo raiz”. Pode ter como vice o ex-secretário de estado, ex-deputado federal mais votado, senador mais votado e candidato derrotado ao governo do estado e ao senado Eduardo Amorim, de novo tucano e agora assumidamente mais à direita com o que restou do PSDB.

O PSOL deixou de apoiar o nome da deputada estadual Linda Brasil, primeira vereadora do partido na capital sergipana e a mais votada da sigla na região metropolitana. A tendência do ex-deputado federal, estadual e e vereador Iran Barbosa apresentou a advogada capelense Niully Campos, dignamente candidata ao governo em 2022, mas com menos evidência do que a deputada. Niully é um quadro incrível, promissor e consistente, mas sua escolha indica ou que o partido pode esperar uma sinalização na bacia das almas do PT que pode não vir, como aconteceu em 2022, ou que ainda não aprendeu a esboçar desenhos de projetos eleitorais inteligentes. Linda, Iran, Sônia Meire e mesmo Henri Clay ainda podem ser trabalhados para o crescimento eleitoral do partido, mas o fogo amigo pode incendiar esse campo fértil.

O multifacetado PT tem um deputado federal, um estadual, um senador e um ministro. O ministro Márcio Macedo não irá pleitear a capital, o senador Rogério foi aventado enquanto provocação e a ex-primeira dama Eliane Aquino não irá por motivos familiares e com a expectativa de que o povo de Sergipe que quase a elegeu para a Câmara federal em 2022 ainda possa lhe eleger para outro cargo. O advogado Clóvis Barbosa e a jornalista Candisse Carvalho pleitearam a indicação. Candisse segue na disputa e o partido caminha para o apoio com unidade ao seu nome ou uma composição com o PSOL, como o presidente João Daniel já suscitou.

O histórico de lealdade a acordos políticos do governador Fábio Mitidieri (PSD) aponta que ele tende a se comprometer no primeiro turno com o direcionamento do prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), mas há ainda perspectivas de vices nesse sentido. Mesmo com o pito do governador à fala do senador Alessandro de que votar na deputada Yandra é em alguma medida dar mais poder ao ex-deputado André Moura, o fato de 2024 trazer mulheres preparadas e hábeis na política dispostas a mudar pelo menos a história eleitoral de Aracaju faz com que Daniele seja apontada como a vice dos sonhos de Luiz Roberto ou de Yandra e Fabiano possa compor a chapa com alguém também.

A base do governador tem muitos e bons nomes, mas esse excesso será testado assim como o antes julgado por não fazer política e não conversar Edvaldo teste sua força e sua versão meio pesquisador de campo meio estagiário em práticas de ensino no desempenho eleitoral.

Yandra Moura não veio ao palco para figuração, Danielle Garcia tem votos e motivos para não abrir mão de protagonismo eleitoral e Luiz Roberto precisa decolar, assim como Katarina Feitosa não perderia concorrendo ao pleito de 2024.

Ao PT resta a expectativa de polarizar com Emília Correia (PRD) se nacionalizar a disputa. Unindo-se ao PSOL este último pode frear seu projeto de bancada na câmara municipal, bem como de continuar a construir visibilidade eleitoral na capital sergipana.

As pesquisas mais recentes projetam um cenário de uma candidatura apoiada pelo governo do estado contra Emília Correia, mas há quem diga que tentam até tirar essa última da disputa.

O fato é que 2024 em Aracaju projeta uma disputa estratégica à Câmara de Vereadores por parte dos partidos, um desenho de 2026 para as lideranças partidárias e um bem provável triunfo feminino para a prefeitura, mas como em política nada do que se diz é tão importante quanto o que se deixa em off, como diria Millor Fernandes, há espaço para surpresas, traquinagens e obviedades ainda não percebidos. Veremos!

[*] é cientista social, articulista, comunicador político @profchicocompolitica (no instagram), idealizador do projeto “a democracia vai à escola: um diálogo entre a juventude e os poderes da República” e professor de sociologia da rede estadual

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