
Por Professor Chico [*]
Articulista que escreve às sextas-feiras
A frase da música ideologia, de Cazuza nos ajuda a refletir sobre as tensões entre quem detém os diferentes poderes nas democracias. Sairmos de um ano de eleições municipais e votamos, sobretudo, para o Legislativo desde em quem prometeu representar categorias de trabalhadores, em quem falou em representar grupos de pessoas até em quem prometeu lutar para resolver os problemas de alguma comunidade ou região da nossa cidade.
Ocupar um cargo publico exige de quem o faz atenção, sensibilidade e o fígado desopilado. Ocupando tais funções se está sujeito ao aplauso efusivo ou às salvas de vaias a depender do discurso, linha de atuação e/ou medida adotada. E temos associações, sindicatos, coletivos, movimentos, entre outros, como formas de reivindicações de direitos e de resistência a possíveis medidas que venham do executivo, legislativo e de setores privados e possam vir a atacar conquistas históricas.
Citando um caso concreto: o governo de Sergipe fará um concurso público para os professores, mas infelizmente fragilizou ainda mais a carreira do magistério sergipano para isso.
O detalhe triste, mas que por incrível que pareça mantém alguma esperança é que os deputados estaduais, principalmente a liderança do governo na ALESE e o presidente da casa receberam o sindicato para ouvir as demandas dos professores diante das medidas enviadas às vésperas do recesso parlamentar de 2024, como de costume aqui, costume bem questionável aliás.
Temos a TV ALESE, a possibilidade de assistir às sessões presencialmente na casa e pelo Youtube. Hoje parte das Câmaras Municipais do nosso estado também transmitem suas sessões pela internet. Acompanhe e veja o que se diz, decide e como se portam os seus representantes.
As medidas enviadas sobre a carreira do magistério, como o governo esperava, foram aprovadas com facilidade e com o contraponto da oposição minoritária. Existem categorias profissionais e categorias profissionais. O que quero dizer com isso? As reivindicações do Judiciário e do Ministério Público, instituições fundamentais da nossa república tendem a ser muito mais ouvidas do que a das demais categorias de servidores.
Pareceu que o atual governador não tem sensibilidade com servidor sem lobby ou pelo menos com lobby identificado com o senador Rogério Carvalho, como parece o Sintese, para alguns setores. Se a ideia era atacar o sindicato e precarizar a carreira isso mais uma vez foi conseguido com êxito. Será que não há ninguém perto do governador para mostrar a ele que parece haver um problema pessoal dele com o sindicato e isso inevitavelmente se estende a toda a categoria?
O sindicato é a representação da categoria que reivindica melhores condições de trabalho para os seus representados e isso inclui a questão salarial sem dúvida.
Desde o segundo governo de Marcelo Déda as coisas se fazem com arrocho e conflito. No livro do professor Ibarê Dantas sobre Déda fica claro que por haver uma relação histórica concomitante e muitas vezes unida do Sintese com Déda, o enfrentamento foi custoso para ambos.
Independente de qualquer coisa, o que aconteceu com o ex-governador representou um golpe nos sonhos de quem acreditava no que ele representava no estado também.
Dito tudo isso, é importantíssimo lembrar que a eleição consagra os eleitos, que é possível apurar denuncias sobre o processo eleitoral, mas aqueles que perdem respeitam os resultados das urnas e fazem oposição aos que assumem o poder se colocando contra o que discordam e a favor do que convergem. São instrumentos de reivindicação as oposições parlamentares, ações judiciais e via ministério publico, greves, etc. Portanto, sindicatos e governos não são inimigos e por óbvio às reivindicações dos sindicatos vão se direcionar à gestão do momento e cada lado apresenta seus argumentos, fundamentos e instrumentos de luta ou proposição sem ressentimentos, fígado e sem levar para o pessoal até mesmo porque a figura que citei um pouco acima aqui, Marcelo Déda, notabilizou-se pela capacidade de perdoar e compor com adversários.
O caso em questão é, só há composição dentro da classe política? Não seria esse o momento de o governador Fabio Mitidieri voltar a receber o sindicato, considerar que houve excessos de sua parte na forma de se referir à instituição e que a considera importante historicamente na educação e nas lutas sociais do estado e fazer um entendimento com os dirigentes para que a comunicação e negociação melhorem?
Alguém como o prefeito eleito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho, por exemplo, conhecido por remunerar bem os funcionários em sua gestão e por conciliar de forma agregadora facilmente pode se inserir melhor numa situação dessas diante de um comparativo de ações.
Millôr dizia que deus ampara os fracos e oprimidos, mas é preciso de um bom sindicato. O Velho Marx apontou muito bem as contradições intrínsecas entre Capital e Trabalho em toda a sua obra, mas na democracia que temos e com as possibilidades que temos, certos conflitos são ruins para ambas as partes.
Nossos inimigos não necessariamente estão no poder, embora por vezes alguns representantes constituídos ajam como se o fossem. Democracia pressupõe a luta através de uma educação para a cidadania, do diálogo, mobilização, transparência, prestação de contas e controle social que vão muito além do ato de votar.
[*] Francisco Emanuel Silva Meneses Alves é cientista social, articulista, comunicador político @politica_facil_ (no Instagram), Membro da Rede Estadual de Educação e Idealizador do projeto “Politica Fácil” enquanto professor temporário de sociologia na rede estadual de Sergipe