Por Manuel Prado Neto [*]
O senador Alessandro Vieira é mais um político brasileiro eleito para um mandato público na onda da extrema direita, que se apegou a uma narrativa de cunho fascista, segundo a qual homens e mulheres “puros” — especialmente policiais e pastores — nos salvariam das mazelas do mundo real.
Como todo discurso fascista, centrado na construção de inimigos responsáveis por todos os males e que, por isso, devem ser eliminados — no caso do Brasil, Lula e o PT —, essa onda de extrema direita, baseada no ódio, no ressentimento e nas frustrações do seu eleitorado, não consegue conviver com um dos seus que, no exercício do mandato, adotou uma postura republicana e legalista, adequada aos padrões da chamada “democracia burguesa clássica”.
Desde que foi eleito senador, Alessandro Vieira se distanciou da “onda bolsonarista”. Ainda durante o governo do presidente que ajudou a eleger em 2018, mostrou-se crítico às aberrações daquela gestão, fazendo oposição a diversas posições do Executivo, especialmente à postura negacionista durante a pandemia.
O senador tem um mandato atuante e se destacou inclusive no cenário nacional. Entre os partidos de centro-direita, é um dos parlamentares mais ativos no Senado Federal, frequentemente ouvido e citado pela grande mídia nacional.
Num contexto em que eu não tivesse opção no campo da esquerda, votaria em Alessandro Vieira. Ainda que tenha discordâncias — ou venha a tê-las — não posso negar que uma direita “civilizada”, cujos argumentos podem ser contestados, mas não classificados como fascistas ou simplesmente imbecis, é benéfica ao debate público e democrático.
Muitos dos eleitores de Alessandro Vieira, em 2018, não pensam assim. Essa gente vive dizendo que é contra a corrupção e que deseja políticos que não usem o poder para se beneficiar ou beneficiar os “seus”. Em quais desses aspectos o senador Vieira os decepcionou? Ao meu ver, em nenhum. A única explicação é que ele tem exercido um mandato republicano, civilizado, pautado pela lei e livre de ódios. Da minha parte, que não votei nele, sinto-me contemplado por sua postura política — ainda que discorde de uma ou mais posições.
[*] Professor de História da rede estadual e militante politico da democracia