Desde meados do ano passado, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou que a taxa básica de juros, Selic, ia ser aumentada para 13,75%, houve uma pausa nos aumentos. De lá para cá, foram cinco reuniões e em todas o BC optou por mantê-la no mesmo patamar, mas sempre alertando para os perigos que o país corre.
Segundo o analista da Estoa, plataforma focada em investimentos e em pesquisas multi-setoriais, Diogo da Silva, períodos como esse costumam causar uma migração no mundo dos investimentos.
Em épocas de juros altos, mais pessoas procuram ativos de renda fixa pelo fato de prezarem pela segurança e rentabilidade que essas aplicações oferecem. “Você acaba tendo uma migração do fluxo de investimento da renda variável para a fixa, já que o retorno passa a não ser tão benéfico com a Selic elevada”, opina.
Mas se por um lado existem benefícios para os investimentos em renda fixa, de outro há uma série de preocupações que rondam a economia, pois com a taxa Selic mais elevada, os setores da economia são facilmente afetados, à medida com que a inflação persiste em não ceder.
“De um modo geral, todos os setores são afetados negativamente, já que a Selic restringe o crescimento econômico e eles precisam crescer para que consigam se manter aquecidos e operando sem serem prejudicados”, explica Da Silva.
No entanto, esse fenômeno é benéfico para dois setores específicos da economia: os bancos e as seguradoras. Estas duas classes possuem interesse na manutenção da Selic em patamares mais elevados como o de agora, já que quanto maiores forem os juros, mais as empresas irão ganhar nos empréstimos.
Uma crise no mercado doméstico pode ser considerada como um cartão de visitas para investidores estrangeiros, que costumam se interessar em realizar aportes no Brasil não só pela força que essas moedas possuem em solo nacional, como no quesito de rentabilidade.
As empresas que optam por investir no Brasil, precisam analisar uma série de fatores para determinar se esta é realmente a opção mais atrativa, principalmente pela exposição ao risco. “É uma questão muito particular, pois mesmo que a Selic ofereça uma rentabilidade melhor, os investimentos em países mais desenvolvidos como os EUA [onde os juros estão em 5,0%], oferecem mais segurança”, afirma o analista da Estoa.
Mas essa é uma questão que vai muito além da vontade dos investidores, nem todos os países permitem que fundos invistam em países com notas de crédito baixas, tornando inviável para essas empresas um aporte no exterior.
Novas IPOs?
O drástico aumento nos juros no ano passado, fez com que a bolsa de valores brasileira, a B3, encerrasse um ano sem nenhuma empresa abrindo capital pela primeira vez desde 1998. O feito inédito pode ser explicado principalmente pela junção de juros e inflação nas alturas, que acaba não afastando possíveis empresas interessadas.
O maior temor está ligado justamente aos investidores, que não demonstram interesse em investir em novas empresas em momentos de incertezas. O cenário em 2023 não deve ser tão diferente do ano passado, prova disso é que a primeira janela de ofertas públicas iniciais (IPOs) se encerra sem nenhum interessado.
Na visão de Da Silva, dificilmente novas empresas entrarão na B3 ainda esse ano. “Os juros ainda vão continuar altos, mesmo com um possível corte nos juros no segundo semestre. Em números, eu acredito que a chance de não haver nenhuma abertura beira os 80%”.
Uma mudança nesse panorama só deverá ocorrer a partir do momento em que tanto a Selic, quanto o IPCA reduzirem significativamente, bem como aconteceu entre 2020 e 2021, quando a bolsa registrou o seu recorde de aberturas.
Fonte: Estoa