Por Murilo Gomes [*]
A corrupção no Brasil é, infelizmente, uma das práticas mais enraizadas nas estruturas de poder. Desde a formação do Estado brasileiro, os vícios políticos se confundem com o próprio funcionamento da máquina pública. A trajetória de personagens como Fernando Collor de Mello, que ascendeu como “caçador de marajás” e acabou envolvido em escândalos e prisão, é uma síntese de como a política nacional se sustenta: pelo marketing vazio, pelo compadrio e pela impunidade que protege figuras públicas quase por toda a vida.
A corrupção no Brasil não é um ato isolado, nem se limita a grandes escândalos midiáticos. Ela começa de forma aparentemente inofensiva: o uso indevido do dinheiro público, a nomeação de apadrinhados políticos para cargos fantasmas, a distribuição de favores para amigos e aliados. Com o tempo, essas práticas vão ganhando corpo, se organizando em esquemas robustos que desviam bilhões dos cofres públicos recursos que deveriam ser investidos em educação, saúde, segurança e infraestrutura.
O paradoxo brasileiro é cruel: a burocracia, que deveria ser instrumento de controle e transparência, muitas vezes se transforma em aliada da corrupção. A complexidade dos processos administrativos cria brechas, facilita desvios e dificulta a fiscalização. Enquanto isso, a desorganização estrutural oferece o ambiente perfeito para que os corruptos prosperem.
Outro fator preocupante é a polarização social em torno da corrupção. No Brasil, a corrupção não é apenas condenada: ela também é defendida. Dependendo de quem seja o acusado, torcidas se formam para minimizar ou justificar atos ilícitos. A seletividade da indignação revela um país onde a ética é frequentemente subordinada a interesses políticos ou ideológicos.
A corrupção se tornou uma instituição informal no Brasil, moldando políticas públicas, interferindo no processo democrático e aprofundando desigualdades. Ela é a mãe de todas as outras nossas mazelas. A vítima direta é sempre os cofres públicos ou o bolso do cidadão, que é sempre a vítima direta ou indireta de tudo. Combater a corrupção não é apenas punir os culpados; é desmontar toda uma cultura de privilégios, clientelismo e favorecimentos que sustenta a velha política. Sem uma mudança profunda na mentalidade coletiva e nas estruturas institucionais, o ciclo continuará se repetindo, como uma trilogia infinita de vilões bem-sucedida.
[*] Jornalista e empreendedor