João Campos aposta no social e na interação enquanto Rodrigo Valadares se fortalece no conflito ideológico e no radicalismo

Artigo escrito pelo cientista social Francisco Emanuel, carinhosamente conhecido como professor Chico

Por Francisco Emanuel [*]
Articulista que escreve às sextas-feiras

Muito embora se diga que não faz mais sentido dividir o mundo em esquerda e direita, essa divisão ainda vigora e serve para ler o mundo por estudiosos e para disputar postos de poder por quem concorre a mandatos.

Rodrigo Valadares foi eleito deputado estadual em 2018 pelo extinto PTB com 15.221 votos. Em 2020, teve 28.858 votos e foi terceiro colocado na disputa pela prefeitura de Aracaju. Em 2022, foi eleito deputado federal pelo União Brasil com 49.696 votos.

Rodrigo se tornou deputado federal em 2022 numa jogada partidária de mestre e de nicho em termos eleitorais, no União Brasil e no bolsonarismo orgânico, respectivamente. Candidato praticamente único e consolidado do campo identificado com Bolsonaro e com uma passagem pela Alese e o pleito de 2020 caracterizados pelo uso frequente, vitalizante e polêmico das mídias sociais digitais, saiu do combalido e conflituoso PTB e adentrou no União Brasil, que naquele momento tinha uma forte candidatura de centro direita com amplo investimento partidário, Yandra Moura.

Soma-se a isso a ausência de um nome como o da atual prefeita de Aracaju e então vereadora Emília Correa, naquela ocasião candidata a vice-governadora de Valmir de Francisquinho, mas com um retrospecto de votos para a Câmara Federal expressivo em 2018, Rodrigo tornou-se congressista e diz-se que tentará o Senado em 2026 por um dos seguintes partidos: Republicanos, PL ou Progressistas. No Republicanos teria em Sergipe a companhia do delegado André David e o deputado Gustinho Ribeiro, mas também do lulista pastor Heleno. No PL, encontra um partido fechado na defesa de Bolsonaro, mas disputa a candidatura com o ex-senador Eduardo Amorim. No Progressistas, encontra o inteligente e bem posicionado senador Laércio Oliveira e o deputado Tiago de Joaldo, posicionado à direita, mas articulado interposições e seu suplente Capitão Samuel, também bolsonarista e com um apelo cristão e de trabalho social com dependentes químicos. O quadro para Rodrigo tende a ser menos complicada numa tentativa de reeleição para a Câmara Baixa do que para a Alta, levando em conta os custos de campanha, o quantitativo de votos e a necessidade de acomodação das chapas majoritárias, mas como disse um colega dele quando estava na Alese, “ele é corajoso”. Veremos.

João Campos foi eleito deputado federal em 2018 com 460.637 votos (o mais votado do estado naquele ano, recorde aliás compartilhado historicamente com a sua avó paterna e seu bisavô). Prefeito eleito em 2020 com 56% dos votos vencendo sua prima Marília Arraes – foco em infraestrutura e se mantendo entre os três prefeitos mais bem avaliados do Brasil reeleito em sua capital em 2024 com 78,11% dos votos com foco em projetos de inclusão social e com uma coalizão que envolveu desde a federação do PT até o Republicanos, o União Brasil e o MDB. O mais jovem a assumir a prefeitura em sua cidade e em capitais no Brasil.

Suas redes, seu carisma e juventude são apontados como exemplos de atratividade e práticas para uma nova esquerda a ponto de em 2025, prestes a assumir a Presidência Nacional do Partido Socialista Brasileiro propor mudar o nome da sigla para PSB, partido social ou da sociedade brasileira, com o intuito de atrair eleitores, conforme avaliações internas ainda que o partido que irá completar 40 anos em 2025, mencione várias vezes em seu estatuto que defende ideias socialistas.

Na opinião do próprio João, mesmo perdendo o socialismo no nome, a sigla não deixaria de ser centro esquerda. O incomodo com o nome não é de hoje. O partido chegou a abrigar em si figuras antissocialistas como o ex-presidente da FIESP, Paulo Skaf; a senadora e ex-ministra Teresa Cristina e o veteraníssimo politico piauiense Heráclito Fortes.

João é visto como um forte nome da esquerda moderada enquanto Rodrigo é um expoente sergipano do bolsonarismo raiz. O sergipano puxa uma campanha de impeachment de Lula em seu Instagram, posta fotos com a família e com declarações de ataque à esquerda, bem como acompanhado de lideranças cristãs. Notavelmente aparece com a prefeita de Aracaju e seu vice o mais distante que vai ideologicamente é posando com Assisinho, de Malhador. Além disso, deputado coleciona aparições com o próprio Bolsonaro. Dentro do ordinário, do que não é estrondoso nas redes, defendeu um programa de créditos para calamidades.

Em 2024 ajudou a eleger sua esposa Moana com votação expressiva para a Câmara de Aracaju. Em um vídeo no Instagram de Rodrigo, Moana exploram contradições como as do ministro Silvio Almeida, demitido por acusações de assédio dizendo que sobre isso «as feministas do suvaco cabeludo não falam».

Enquanto Rodrigo enxerga o PL da Anistia como a principal bandeira da direita no Brasil, João pinta o cabelo, posta vídeos no meio do povo, defende a redução das desigualdades e o dialogo, bem como a necessidade de a esquerda sair das ditas pautas identitárias, mas apoia o governo do presidente Lula.

Diante do exposto aqui vemos que juventude não quer dizer necessariamente ser progressista. De fato, parece que João Campos realmente não desistiu do Brasil, como sugeriu Marina Silva após o acidente que vitimou seu pai em 2014, enquanto Rodrigo Valadares não desiste de lucrar com o incêndio das paixões politicas levadas ao extremo.

[*] Francisco Emanuel Silva Meneses Alves é cientista social, articulista, comunicador político @politica_facil_ (no Instagram), Membro da Rede Estadual de Educação e Idealizador do projeto “Politica Fácil” enquanto professor temporário de sociologia na rede estadual de Sergipe

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.