Por Marcio Rocha [*]
O acesso ao ensino superior tem desempenhado um papel crucial na transformação das famílias mais pobres, promovendo ascensão social, melhoria na qualidade de vida e impulsionando uma revolução silenciosa, mas profunda, no mercado de trabalho. A expansão das oportunidades educacionais para pessoas de todas as classes sociais, especialmente as menos favorecidas, reflete uma mudança paradigmática em sociedades que historicamente restringiram a educação superior às elites. Essa transformação social e econômica está criando um novo panorama, onde pessoas que antes jamais imaginariam ingressar em uma universidade estão assumindo papéis de destaque em profissões tradicionalmente associadas aos filhos das famílias mais ricas.
Historicamente, o acesso à educação superior era privilégio de uma minoria. Os custos elevados e a concentração de instituições de prestígio nas grandes cidades tornavam praticamente inviável que as classes mais baixas considerassem uma carreira acadêmica como caminho viável para a melhoria de suas condições de vida. No entanto, com políticas públicas de expansão do ensino superior, como a criação de universidades públicas em regiões periféricas, programas de financiamento e bolsas de estudo, essa realidade tem mudado significativamente.
O impacto dessa transformação é profundo. Para as famílias de baixa renda, a entrada de um membro no ensino superior representa uma ruptura no ciclo de pobreza. A formação acadêmica oferece perspectivas concretas de empregos melhor remunerados, maior segurança financeira e estabilidade econômica. Em muitos casos, os filhos das classes mais baixas são os primeiros de suas famílias a obter um diploma universitário, um marco que redefine o futuro daquela família e de suas gerações futuras.
Esses indivíduos que rompem as barreiras do acesso à educação superior estão ascendendo socialmente, o que se reflete em uma série de benefícios tanto para eles quanto para as comunidades em que vivem. A inserção no mercado de trabalho de forma qualificada possibilita que essas pessoas ocupem cargos e profissões que antes pareciam inatingíveis. Aquelas carreiras outrora associadas às elites, como medicina, engenharia, direito e arquitetura, agora são ocupadas por jovens de origens humildes, que trazem consigo não apenas um desejo de transformação pessoal, mas também uma nova visão de mundo, rica em diversidade e em compreensão das dificuldades enfrentadas pelas classes mais baixas.
A melhoria na qualidade de vida dessas famílias não se resume apenas aos ganhos financeiros. A educação tem o poder de ampliar horizontes, proporcionar maior consciência crítica e fomentar uma postura cidadã mais ativa. Com o diploma em mãos, os novos profissionais têm acesso a informações e redes de contatos que não estavam disponíveis antes, o que os capacita a tomar decisões mais informadas, planejar o futuro com mais segurança e, muitas vezes, até inspirar seus pares e familiares a seguir o mesmo caminho.
Esse processo de ascensão social através da educação também reflete mudanças importantes no mercado de trabalho. À medida que mais indivíduos de classes populares ingressam em profissões qualificadas, o mercado se diversifica e a inovação se fortalece. Profissionais com diferentes origens e trajetórias de vida trazem perspectivas novas e muitas vezes disruptivas, o que é essencial para setores que dependem de criatividade e inovação. Além disso, o aumento da escolaridade entre as camadas mais pobres reduz a desigualdade social, contribuindo para a criação de uma economia mais inclusiva e resiliente.
As profissões que antes eram destinadas apenas aos filhos das elites estão, gradualmente, se tornando acessíveis a todos os segmentos da sociedade. O advento de programas de ação afirmativa, como cotas raciais e sociais, também tem desempenhado um papel fundamental nesse processo. Estes programas têm permitido que grupos historicamente marginalizados tenham acesso ao ensino superior e às carreiras que, até então, estavam fora do seu alcance. Além de corrigir injustiças históricas, a inclusão de pessoas de diferentes origens raciais e socioeconômicas nas universidades também enriquece o ambiente acadêmico e, posteriormente, o mercado de trabalho, promovendo uma troca de experiências mais rica e plural.
A transformação que o acesso ao ensino superior está promovendo nas famílias mais pobres é, na verdade, uma mudança estrutural de longo prazo. À medida que mais pessoas de classes desfavorecidas obtêm educação superior, cria-se um efeito multiplicador: essas pessoas, agora mais empoderadas, começam a influenciar positivamente suas comunidades, incentivando outros a buscarem a mesma trajetória. Dessa forma, a educação torna-se um catalisador de progresso social contínuo, promovendo maior equidade e justiça social em níveis antes inimagináveis.
A longo prazo, a democratização do ensino superior é também uma peça-chave na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A evolução no mercado de trabalho, com a presença de profissionais de todas as classes sociais em cargos de alta qualificação, promove uma redistribuição de renda mais equilibrada, reduzindo o abismo entre ricos e pobres. Mais do que isso, a educação superior proporciona o desenvolvimento de cidadãos mais críticos e conscientes de seu papel na sociedade, capazes de contribuir ativamente para a construção de um futuro mais inclusivo e sustentável.
O impacto dessa transformação é visível não apenas em termos econômicos, mas também nas dinâmicas sociais. As barreiras que antes separavam ricos e pobres, formados e não-formados, estão sendo progressivamente quebradas. Essa integração tem o potencial de criar um novo tecido social, mais coeso e menos fragmentado, onde o sucesso individual não depende apenas do ponto de partida, mas da capacidade de cada um de aproveitar as oportunidades que, agora, estão mais acessíveis.
[*] é jornalista formado pela UNIT, radialista formado pela UFS e economista formado pela Estácio, especialista em jornalismo econômico e empresarial, especialista em Empreendedorismo pela Universitat de Barcelona, MBA em Assessoria Executiva pela Uninter, com experiência de 23 anos na comunicação sergipana, em rádio, impresso, televisão, online e assessoria de imprensa