Por Uilliam Pinheiro
O empresário Juliano César Faria Souto, CEO do Grupo Fasouto, é um dos homens bem sucedidos em Sergipe. Ele é um administrador de Empresas por formação acadêmica e empreendedor por descendência genética do grande Raymundo Juliano Faria Santos, seu pai.
Em entrevista ao site O Caju Notícias, Juliano Souto revela que ver o governador Fábio Mitidieri adotando uma abordagem moderna e empreendedora da administração pública, o que favorece ao ambiente de negócios, traçar planos para futuro do Grupo Fasouto e, novamente, enfatiza a necessidade de um projeto de país para que o Brasil possa se desenvolver de forma contínua e sustentável.
Confira a entrevista na íntegra:
O Caju Notícias – O senhor participou do Encontro do LIDE, no qual o governador Fábio Mitidieri apresentou um balanço socioeconômico de sua administração aos empresários sergipanos. Qual foi sua avaliação da apresentação do governador? E qual a sua opinião sobre a gestão de Fábio Mitidieri no que se refere ao desenvolvimento econômico e ao ambiente de negócios?
Juliano César Souto – Há um movimento em curso em Sergipe. Discreto, mas firme. De dentro para fora, de baixo para cima. Um movimento que une iniciativa privada, gestão pública e espírito associativo em torno de uma mesma ideia: Sergipe pode mais. O governo do jovem Fábio Mitidieri é uma grata surpresa. Conheço a família há décadas e cada dia admiro mais sua simplicidade, capacidade de articulação, humildade, carisma que podem transforma-lo no líder que Sergipe precisa pra sair da estagnação dos últimos 30 anos, pós declínio da Petrobras e de outros minérios. Uma nova geração empresarial encontra terreno fértil na gestão do governador Fábio Mitidieri, que tem adotado uma abordagem moderna e empreendedora da administração pública. O Estado, que por tanto tempo foi visto como entrave ou obstáculo, passa agora a ser alavanca, parceiro e estruturador de ambiente favorável aos negócios. Mitidieri entendeu que, ao preparar a infraestrutura, reduzir entraves e garantir segurança jurídica, desperta aquilo que Keynes chamava de espírito animal do empreendedor — aquele impulso vital que nos move a criar, ousar e realizar.
O Caju Notícias – Acompanhando seus textos, percebo que o senhor é um incentivador do Programa Primeiro Emprego, do Governo de Sergipe. Na sua visão, o programa é eficaz? Pode ser considerado um acerto da gestão Fábio Mitidieri? Se sim, por quê?
Juliano César Souto – Sim. E podemos seguir avançando para transformar nosso potencial em resultados concretos. Segue algumas sugestões: fortalecer as estruturas existentes como expansão do impacto do Tiradentes Innovation Center e do CajuHub, transformando-os em hubs regionais conectados ao governo e ao setor privado; implementar cursos e workshops gratuitos em áreas como programação, inteligência artificial e marketing digital, especialmente voltados para jovens de comunidades vulneráveis; criar um programa de incubação similar ao Miditec, com foco em startups locais, promovendo a criação de negócios viáveis e sustentáveis; desenvolver parcerias com fundos de venture capital e investidores-anjo, oferecendo incentivos para que grandes cheques também cheguem a Aracaju; firmar acordos de cooperação com hubs globais para expandir o alcance das startups sergipanas; e integração com as entidades empresariais, como o LIDE, Fórum Empresarial, demais federações, sindicatos e associações têm se mostrado espaços férteis para essa construção coletiva entre o setor produtivo e o poder público, ajudando a pautar políticas de longo prazo com base em dados, experiências e boas práticas.
Aos colegas empreendedores sergipanos, deixo uma mensagem: empreender é um ato de coragem, mas também de generosidade. Criar negócios que geram empregos, que respeitam as pessoas e o meio ambiente, é a forma mais concreta de transformar realidades e honrar o nosso lugar no mundo.

O Caju Notícias – O mercado de varejo tem passado por transformações nos últimos anos, em que supermercados varejistas de médio e grande porte vêm perdendo espaço para os atacadistas. Com esse crescimento dos supermercados atacadistas, a concorrência entre eles também aumentou, na tentativa de conquistar a preferência e a fidelidade dos clientes. Como o senhor avalia a implantação de diversos atacadistas em Sergipe e o que o Grupo Fasouto tem feito para se manter competitivo nessa disputa pelo consumidor?
Juliano César Souto – Acredito no espírito empresarial sergipano: resiliente, criativo, discreto e comprometido. Um espírito que se manifesta todos os dias nas feiras, nos balcões, nos armazéns, nas lojas de bairro e nas startups. Somos permanentemente chamados a romper com a acomodação, a enxergar nas crises a chance de reinvenção e a construir com visão, coragem e trabalho um futuro mais justo e inclusivo. Porque, no fim das contas, é nas maiores turbulências que nascem os grandes impérios — e as grandes histórias de transformação.
O Caju Notícias – O Grupo Fasouto é uma empresa genuinamente sergipana e tem crescido ao longo do tempo, com filiais em Estância, Tobias Barreto e Nossa Senhora do Socorro, além da matriz no bairro Industrial. Qual é o planejamento futuro do Grupo Fasouto? Há previsão de expansão para outros municípios?
Juliano César Souto – O plano FASOUTO Dobra representa mais do que um projeto de expansão. É uma declaração de confiança no futuro do Estado. Um plano para dobrar de tamanho em impacto, relevância e compromisso com o cliente. Com raízes profundas no comércio sergipano, a Fasouto avança de forma planejada e ousada, apostando na transformação digital, no capital humano e no relacionamento com seus parceiros. Para tal é necessário muito trabalho e foco e especialmente que em nosso manicômio tributário seja garantida a equidade com relação aos gigantes grupos que usam as “brechas” da lei para impor condições desiguais as empresas eminentemente locais. Nosso principal valor é honrar o legado de Raymundo Juliano, e enaltecer as lições que aprendemos; negociar e fazer amigos; priorizar o valor da cultura da empresa; trabalho em equipe e meritocracia, avaliação e escolha isenta. e a importância de equilibrar a sabedoria dos mais velhos com a energia dos mais jovens expressa na frase popular “se a velhice pudesse e a juventude soubesse”. Estamos investindo fortemente em tecnologia e inteligência de dados, com a implantação de um CRM robusto que nos permite entender os hábitos de consumo dos nossos mais de 30 mil clientes, oferecendo soluções personalizadas e melhorando sua experiência de compra. E assumimos o papel de elo estratégico entre a indústria e o pequeno varejo, garantindo capilaridade na distribuição e fortalecendo o comércio local com competitividade e agilidade.
O Caju Notícias – O Congresso Nacional aprovou, no ano passado, uma Reforma Tributária proposta pelo Governo Lula. O senhor acredita que a reforma aprovada trará melhorias para o ambiente de negócios no Brasil?
Juliano César Souto – Um amigo diz, brincando: “reforma tributaria se prepare que antes de melhorar vai piorar bastante, rsrsrs“. Foi aprovada uma reforma que obriga as empresas a conviver durante 07 anos com dois sistema: o atual, caótico, complexo e sem lógico, mas que já estamos acostumados, e um novo, ou seja, o Brasil é somente pra brasileiros. Como otimista inveterado, enxergo uma luz no final do tunel: o split payment. Somente com ele, a tão sonhada reforma tributaria que Brasil não deve adiar, porém a necessidade de uma nova realidade tributária e fiscal é consenso; sua implementação, um dos maiores desafios, porque postula que interesses particulares conflitantes sejam postos de lado em nome de um bem maior, como diz o Miguel: “o ótimo global não é a soma dos ótimos locais”, assim é imprescindível que no Congresso possamos iniciar uma colaboração entre governo, empresas e instituições financeiras para desenvolver procedimentos que suportem essas inovações enquanto protegem os interesses dos contribuintes e promovam a sonhada simplificação. Sendo evidente que o split payment traz avanços ao estabelecer que os impostos criados pela Reforma Tributária serão recolhidos imediatamente no momento do pagamento e os bancos responsáveis por separar o valor para os cofres públicos dos entes nacionais, uma medida prática que tem o objetivo de combater a sonegação fiscal, reduzindo a competição desigual, inclusive, trazendo a equidade entre o comércio físico e digital. Entretanto. há um PERIGO IMINENTE: o discurso oficial vende a ideia de que o governo está taxando os ricos para beneficiar os mais pobres. No entanto, corrigir a tabela do IRPF era uma obrigação histórica, não um presente do governo; a compensação tributária não afeta os super-ricos, mas exclusivamente os empresários de médio porte que reinvestem seus lucros no país; e a carga tributária já é alta demais, e aumentar impostos em um país que gasta mais do que arrecada apenas reforça um ciclo vicioso de baixo crescimento.

O Caju Notícias – O senhor tem escrito diversos artigos de opinião abordando a necessidade de um projeto de país para que o Brasil possa se desenvolver de forma sustentável. Na sua opinião, qual seria o projeto de país ideal que deveria ser implementado? E por que os governantes do Brasil não o colocam em prática?
Juliano César Souto – Fato. Nosso problema de inflação é estrutural. Não dominamos nenhuma cadeia relevante, ou seja, somos, após 500 anos, produtores de matéria prima e estamos totalmente ausente da revolução da tecnologia, salvo algumas exceções isoladas, como Florianopólis. Temos um país cartorial, com elevado custo que chega a 40% do PIB, crescente ano a ano e totalmente direcionado a uma “casta de privilegiados“ ou “amigos do rei”. Para compensar, criamos um conjunto de benefícios, cotas, etc, que deveriam ser provisórios e mitigadoras das mazelas atuais, mas servem como politica “clientelista”. Um país com os maiores juros reais do mundo, a maior despesa publica do mundo, índices educacionais e IDH de terceiro mundo, essa equação não fecha. Estamos perdendo participação no mundo desde 1950, exceto alguns anos de crescimento com “voo de galinha”. A solução passa por projeto de Nação Brasil 2100: ser fornecedor estratégico em cadeias globais de alimentos, energia limpa e biotecnologia; desenvolver tecnologia nacional com base em demandas locais, dominando toda a cadeia: da pesquisa à produção, dos insumos à comercialização, com um forte “Made in Brazil”; estimular um modelo de desenvolvimento sustentável, que combine produtividade com inclusão; valorizar nossa geopolítica, somos o centro da América do Sul, a maior fronteira verde do mundo e o principal eixo sul-atlântico; valorizar o empreendedorismo em vez de aprofundar o assistencialismo permanente; reduzir o peso do Estado, focando em políticas públicas que entreguem resultados mensuráveis; garantir condições básicas iguais para todos; uma educação pública de tempo integral e de qualidade; ter um sistema de saúde eficiente; ter uma segurança pública cidadã, não miliciana; buscar o domínio de cadeias produtivas completas, não apenas a extração e exportação de recursos naturais; integrar Academia, Ciência e Inovação ao setor produtivo e ao empreendedorismo; apostar na economia verde e nas novas fronteiras tecnológicas, como a inteligência artificial; construir um posicionamento geopolítico voltado ao desenvolvimento, com autonomia estratégica, não apenas como consumidor ou importador de tecnologia e capital; e uma reforma no sistema político, tornando-o mais inclusivo e representativo, rompendo com o modelo hereditário de grupos de poder desconectados da população real.
Uma reflexão: 50 anos atrás, Brasil e China estavam em posição socioeconômica semelhante. O que aconteceu? É chegada a hora que nós, brasileiros, afastamos nossas divergências de posições políticas e/ou econômicas e nos unirmos em torno de um PROJETO NACIONAL para as futuras gerações, que pelo exposto, passará, obrigatoriamente, pela disseminação da democracia, da informação, do conhecimento e empoderamento das pessoas por meio do capital intelectual. Está em nossas mãos o nosso destino. E pra descontrair, como nos ensinou o “veio Lua”, de Luiz Gonzaga, nos idos de 1950, ” ….uma esmola a um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão…”
O Caju Notícias – Desculpe a ousadia da pergunta, mas o senhor já cogitou participar da vida pública, seja por meio de um cargo eletivo ou de um cargo técnico no Executivo, caso fosse convidado por algum gestor público?
Juliano César Souto – Essa é a pergunta mais fácil, pois a resposta já está testada e aprovado, oriunda e aplicada por meu pai, mestre e mentor Raymundo Juliano: “Porque o meu pensamento foi sempre um pensamento para o mundo empresarial. Quando eu já havia chegado em Aracaju, fui convidado para ser o prefeito de Estância. E eu disse a Dr. Jorge Leite, que era o chefe político de lá, que meu pensamento era voltado para empresas, e que não tinha espaço para a política. Não é que eu não goste da política. Eu só acho que os políticos têm que ser pessoas de bem” Junto a isso, sigo em frente tentando colocar em pratica as outras duas lições: acreditar no empreendedorismo como a ferramenta mais sustentável de mudança e justiça social, além de promover o crescimento econômico, e participar das entidades de classe empresariais, como uma interface sólida entre o setor privado e o poder público, cumprindo um papel relevante de formulação, provocação e diálogo propositivo, consolidando-se como espaço legítimo de construção coletiva de caminhos para o desenvolvimento, uma convergência entre liderança política e liderança empresarial, orientada por uma visão de futuro e ancorada em projetos concretos.