A candidatura de delegadas de polícia à Prefeitura de Aracaju na última eleição motivou a pesquisa “Mulher e delegada: gênero e relações de poder em processos eleitorais sergipanos”, de autoria da comunicóloga e pesquisadora Eloisa Galdino, que será defendida como dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (PPGCOM/UFS), nesta sexta-feira, 24, às 14h, na sala de reuniões do Departamento de Comunicação Social (DCOS).
Com um tema muito atual e relevante, a dissertação apresenta uma importante discussão que terá desdobramentos nas eleições municipais do próximo ano, quando haverá uma expressiva candidatura de mulheres para a prefeitura da capital sergipana. Eloisa conta que a ideia da pesquisa surgiu durante rodadas de focus group para detectar tendências político-eleitorais para 2020 em Aracaju.
“O resultado provocou algumas interrogações para mim, dentre elas o interesse das pessoas pela imagem pública da delegada Danielle Garcia, que se apresentava como pré-candidata na disputa. Depois, a chegada de mais duas delegadas, Katarina Feitoza e Georlize Teles, me pareceu um fenômeno bem atípico e que merecia ser estudado. Katarina e Danielle foram mulheres que marcaram aquele pleito, participando dele até o final, no segundo turno, numa eleição marcada por uma polarização nacional muito grande”, relata Eloisa.
Segundo a pesquisadora, a escolha de mulheres delegadas está alinhada ao processo eleitoral de 2018, com a eleição de outsiders agentes da segurança pública Brasil afora. Eloisa comenta que ficou claro durante a pesquisa que Katarina foi escolhida como vice-prefeita após a apresentação de Danielle como pré-candidata. O fato de elas serem delegadas, uma profissão que mobiliza um imaginário de força e coragem, rompe com os lugares socialmente definidos pela divisão sexual do trabalho.
“Há uma associação direta delas com a imagem de autoridade policial, uma performance feminina que, de alguma maneira, rompe com as expectativas relacionadas à divisão sexual do trabalho e com os lugares reservados às mulheres. Essa ruptura acaba, ao menos nesses casos pesquisados, diminuindo obstáculos geralmente maiores para outras mulheres, por quebrar uma hierarquização dada como natural. Ser delegada é ter um distintivo que abre caminhos numa seara predominantemente masculina e machista”, avalia Eloisa.
Caminhos possíveis
Apesar de os dois últimos pleitos eleitorais de Aracaju terem sido vencidos por um homem, o prefeito Edvaldo Nogueira, mulheres foram figuras centrais, sendo eleitas como vice-prefeitas: Eliane Aquino, na eleição de 2016, e Katarina Feitoza, em 2020. Na análise de comunicóloga, Aracaju aponta na direção de ter uma mulher como prefeita há alguns anos, o que não foi consolidado, ainda, por causa das dificuldades que as mulheres passam no ambiente da política.
Mas Eloisa enfatiza que houve uma mudança de cenário, pois essas mulheres têm uma força política independente, e apesar dos entraves que ainda existem, não estão limitadas às figuras masculinas que estão no poder. “Isso é tão evidente que nenhuma das duas terminou o mandato ao lado de Edvaldo, Eliane foi eleita vice-governadora dois anos depois, em 2018; e Katarina deputada federal, no pleito seguinte, em 2022, algo que demonstra o capital político das duas”, pontua.
A previsão da pesquisadora, que indica a demanda de uma mulher à frente da Prefeitura de Aracaju, parece se confirmar. Todos os nomes com força política para disputar a próxima eleição são femininos, com destaque para as duas últimas vice-prefeitas: Eliane Aquino, Katarina Feitoza, Danielle Garcia, Emília Correia, Linda Brasil e Yandra Moura.
“A tendência a termos mulheres protagonizando a disputa eleitoral de Aracaju é grande, mas elas sempre precisarão de muita habilidade para tornar suas candidaturas viáveis. Pela leitura do cenário atual, os nomes masculinos que aparecem são pouquíssimos e estão muito aquém da estatura de expressões femininas que se apresentam como pré-candidatas. Essas mulheres estão na cena política da sucessão de Edvaldo Nogueira têm consistência, o que precisa é combinar o jogo político com ‘os russos’, como diz o ditado popular. Nesse caso, entendemos por russos as alas masculinas que dominam os partidos políticos sergipanos”, conclui Eloisa.
Por Obará Comunicação Integrada
Foto: Andreza Nonato