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Hora e Di. Pintores, artistas e personalidades do Brasil

Artigo escrito pelo professor Luiz Eduardo Oliveira

Luiz Eduardo Oliveira [*]

Lendo, e literalmente apreciando, um livro sobre o pintor carioca Di Cavalcante, que se encontra sobre uma mesa de centro, no hall do edifício onde resido, quase de enfeite, para compor uma decoração ou talvez para dar um ar de cultura, não pude deixar de apreciar as obras, uma a uma, que retrataram o cotidiano e as formas de viver de brasileiros que circularam pelas ruas, pelos bordeis, com suas expressões corporais e a trivialidade feminina tão delicadamente pintadas e expostas no livro, “Di Cavalcante Conquistador de lirismos”, escrito por Denise Mattar e Elisabeth Di Cavalcante, filha do grande pintor brasileiro, o Emiliano, nome de batismo. Segundo o próprio artista, ele não era um poeta, um filósofo, um artista, um inquieto, mas sim, um conquistador de lirismos e acrescentava, “Eu sou meu personagem”. Um artista que já trabalhava o marketing.

De alguma forma, lembrei-me de Horácio Hora, sergipano, de Laranjeiras, um dos mais destacados representantes da pintura do Romantismo brasileiro. Este sergipano recebeu uma bolsa de estudos na Europa, onde estudou na Escola de Belas Artes de Paris e na Escola Municipal de Desenho de Paris. Lá obteve o 1º prêmio no concurso geral de todas as escolas de Paris e o título de aluno modelo. Um feito e tanto, não divulgado em terras dos siris.

O pintor sergipano, Horácio Hora, deixou mais de 300 obras e ao apreciar as obras “Pecy e Cecy”, “Paisagem” e “Folhas de Outono”, poderemos ter uma dimensão de sua importância para Sergipe e para o Brasil. Morreu, em Paris, pobre e sem o reconhecimento de seus conterrâneos. Isso em 1890, aos 37 anos de idade, porém de lá pra cá parece que não crescemos em sergipanidade.

Não conhecemos e não procuramos reconhecer personalidades que foram e são referências, como Bispo do Rosário (Manto da Apresentação), Alina Paim (Estrada da Liberdade), Maria Beatriz Nascimento (Sistemas Sociais a Alternativos Organizados por Pessoas Negras), Zé de Dome, Professora Zizinha, Tobias Barreto, Sílvio Romero, entre tantos outros que já não estão entre os vivos. Contudo, acredito que sergipano precisa aprender a valorizar sergipanos, nas mais diversas áreas.

Corroborando esse pensamento, trago uma fala concedida pelo grande artista sergipano, Lula Ribeiro, em julho de 2014, onde disse, em tom de desabafo, que “o problema de Sergipe é com o sergipano. Sergipano não gosta de sergipano”.

Há muito que vinha refletindo sobre essa constatação e lembrei de uma apresentação em um bar da orla de Atalaia, durante dias após sua inauguração, quando ouvia uma banda que só tocava músicas não
sergipanas. Músicas boas, porém, não tinham a sensibilidade local, o cheiro da atalaia, as surpresas da caatinga, o calor do barco de fogo, a sutilizas do Imbuaça. Solicitei ao garçom, em um lenço de papel, para que fosse tocado algo de Antônia Amorosa (“Coco da Capsulana”, “Formigueiro”), Patrícia Polayne (“Camará”, “Sabiá, Beija-Flor”), Chico Queiroga e Antônio Rogério (“Ruas de Ará”, ” Meu Papagaio”, “Aracaju Menina” e “Cheiro da Terra”), The Baggios (“Miquim”, “Saruê”), Lula Ribeiro (“Congênito”, ” Faz de conta”, “Mercê de você” e “Rua da amargura”) e, simplesmente, fui ignorado. Fiquei sabendo que era uma banda sergipana.

O artista Lula Ribeiro, na mesma entrevista acima referida, foi mais além na sua interpretação, aduzindo que a misantropia “é geral, em todas as áreas”. Irritado, pensei: Oxente, agora é que deu a peste. De que cabrunco o Lula Ribeiro estava falando? Concordei com ele.

Automaticamente, pensei que deveríamos fazer alguma coisa urgente, antes que toda a nossa memória seja esquecida de uma vez, e aqui peço permissão para utilizar a mesma expressão utilizada pelo talentoso artista, quando de sua entrevista.

Uma luz no fim do túnel pode ser vista ouvida e sentida, é só sintonizar no programa Seleção Brasileira, sob o comando do Mário Sérgio, na rádio Aperipê e tentar regar o solo, já plantado de sergipanidade. Durante o programa somos informados sobre grandes artistas brasileiros (e sergipanos também) e podemos ouvir músicas, interpretações e curiosidades sobre nossas raízes que fazem brotar a esperança de reconhecimento do sergipano, por outro sergipano.

[*] Doutor em Saúde e Ambiente

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