
Por Márcio Rocha [*]
Articulista que escreve aos sábados
O crescimento de 3,4% do PIB brasileiro em 2024, conforme divulgado pelo IBGE, reflete um desempenho positivo da economia, sendo o maior avanço anual desde 2021. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelos setores de serviços (+3,7%) e indústria (+3,3%), indicando uma retomada da atividade econômica após períodos de incerteza. No entanto, o impacto real desse crescimento sobre o poder de compra da população não foi uniforme, especialmente diante da inflação persistente, da alta nos preços dos alimentos e da expansão monetária, fatores que comprometeram a percepção desse avanço econômico para muitos brasileiros.
A queda de 3,2% na agropecuária é um dos pontos centrais dessa análise, pois o setor tem grande peso tanto na economia quanto no custo de vida da população. A redução na produção agrícola pode estar associada a uma combinação de fatores, como condições climáticas adversas, aumento dos custos de insumos (como fertilizantes e combustíveis), priorização da exportação e gargalos logísticos. Como consequência, a menor oferta de produtos agrícolas no mercado interno contribuiu para a elevação dos preços dos alimentos, o que impactou diretamente a inflação e a capacidade de consumo das famílias.
A inflação dos alimentos foi um dos desafios mais significativos do ano, tornando-se um entrave para a melhoria real das condições de vida. Mesmo com o crescimento do consumo das famílias em 4,8%, esse aumento pode estar mais relacionado à necessidade de gastar mais para adquirir os mesmos produtos, e não a um ganho efetivo no poder aquisitivo. A alta dos preços dos itens essenciais, como carne, leite, arroz e feijão, teve um efeito desproporcional sobre as camadas mais pobres da população, que dedicam uma parcela maior da renda à alimentação. Assim, enquanto os números macroeconômicos mostram expansão, a realidade do dia a dia pode não ter refletido essa melhora para grande parte dos brasileiros.
Outro fator importante nesse cenário foi a expansão monetária, que ajudou a estimular o consumo, mas também pode ter contribuído para a manutenção da inflação em patamares elevados. O crescimento da base monetária e o aumento da oferta de crédito injetaram mais dinheiro na economia, impulsionando a demanda por bens e serviços. No entanto, quando a oferta de bens essenciais, como alimentos, não cresce no mesmo ritmo, os preços sobem, gerando um efeito inflacionário que reduz o impacto positivo do crescimento econômico sobre o bem-estar da população.
O papel do setor público também merece destaque. A despesa do governo cresceu 1,9%, um aumento moderado, que indica uma atuação controlada no estímulo à economia. Esse crescimento foi inferior ao do consumo das famílias, o que sugere que o setor privado teve um papel mais relevante na expansão do PIB em 2024. Além disso, a política monetária do Banco Central, com juros elevados, limitou a expansão do crédito e do investimento, o que, por um lado, ajudou a conter a inflação geral, mas, por outro, não foi suficiente para segurar a alta dos preços dos alimentos.
Dessa forma, a análise do PIB de 2024 revela um cenário de crescimento econômico sólido, mas com desafios significativos na distribuição dos benefícios desse avanço. A alta dos preços dos alimentos, impulsionada pela queda na agropecuária e pela inflação, corroeu parte dos ganhos do consumo, especialmente para as famílias de menor renda. A expansão monetária e o crédito ampliado favoreceram o consumo, mas também pressionaram a inflação, tornando o crescimento desigual e menos perceptível para grande parte da população. O desafio para os próximos períodos será garantir que a economia continue crescendo sem que a inflação comprometa o poder de compra e a qualidade de vida dos brasileiros.
[*] é jornalista formado pela UNIT, radialista formado pela UFS e economista formado pela Estácio, especialista em jornalismo econômico e empresarial, especialista em Empreendedorismo pela Universitat de Barcelona, MBA em Assessoria Executiva pela Uninter, com experiência de 23 anos na comunicação sergipana, em rádio, impresso, televisão, online e assessoria de imprensa