Trump e as declarações explosivas: estratégia ou bravata?

Artigo escrito pelo jornalista e empreendedor Murilo Gomes

Por Murilo Gomes [*]

Nos últimos dias, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a estampar manchetes internacionais com declarações polêmicas. Em tom aparentemente provocativo, mencionou a possibilidade de anexar territórios como Canadá, México e até o Canal do Panamá. A fala, repleta de exageros e hipérboles, levanta questionamentos: trata-se de uma ameaça real ou apenas uma estratégia retórica?

Durante seu mandato entre 2017 e 2021, Trump demonstrou uma abordagem diplomática pouco convencional, mas, ao contrário de líderes beligerantes, não iniciou novas guerras. Pelo contrário, retirou tropas americanas de conflitos prolongados, como no Afeganistão, e mediou acordos de paz históricos, como os Acordos de Abraão, que aproximaram Israel de países árabes.

Outro marco de sua política externa foi o inédito encontro com Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte. Em 2018, Trump tornou-se o primeiro presidente americano a se encontrar pessoalmente com um chefe de Estado norte-coreano, tentando negociar a desnuclearização da península. Embora os resultados práticos tenham sido limitados, a iniciativa foi um avanço diplomático.

Diante desse retrospecto, soa improvável que Trump estivesse, de fato, sugerindo uma expansão territorial militarista. Mas então, qual seria a intenção por trás dessas declarações?

O cenário internacional é marcado por disputas de poder entre grandes potências. A Rússia de Vladimir Putin mantém uma postura agressiva, como demonstrado pela anexação da Crimeia em 2014 e a invasão da Ucrânia em 2022. Já a China reforça suas ameaças de reunificação forçada com Taiwan, aumentando a tensão no Pacífico.
Nesse contexto, Trump parece adotar uma postura de dissuasão estratégica, utilizando declarações fortes para reforçar a posição americana no tabuleiro geopolítico. Assim como um cão marca território, como comparado por analistas, o ex-presidente busca mostrar força, enviando sinais claros a adversários como Putin e Xi Jinping.

Essa retórica intimidadora não é nova na política externa dos EUA. Presidentes como Theodore Roosevelt e Ronald Reagan também usaram discursos duros para projetar poder e evitar conflitos diretos. No caso de Trump, a estratégia parece ser a mesma: manter aliados e inimigos atentos às suas palavras, mesmo que exageradas.
As falas de Trump reverberam globalmente, especialmente em um momento de incertezas políticas nos Estados Unidos. Com as eleições presidenciais de 2024 se aproximando, ele busca manter sua base eleitoral mobilizada e reforçar sua imagem de líder forte, capaz de enfrentar potências rivais.

Por outro lado, suas declarações também podem gerar ruídos diplomáticos. Canadá e México são parceiros estratégicos dos EUA, e insinuações sobre anexação podem desgastar relações bilaterais. Da mesma forma, o tom provocativo pode ser explorado por adversários para alimentar narrativas antiamericanas.
Ao analisar o histórico de Trump, suas declarações recentes parecem muito mais uma tática de comunicação do que um plano real de expansão territorial. No jogo bruto da geopolítica, a intimidação verbal pode ser uma ferramenta tão poderosa quanto a força militar.

Resta saber se essa abordagem continuará surtindo efeito ou se, em um mundo cada vez mais instável, o risco de interpretações equivocadas poderá levar a tensões ainda mais perigosas.

[*] Jornalista e empreendedor

Foto: Gage Skidmore from Peoria / AZ / USA / Wikimedia

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