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Um cidadão chamado Seu Paulo

Artigo escrito pelo professor universitário Luiz Eduardo

Luiz Eduardo Oliveira [*]

Há aproximadamente 34 anos, no dia 09-09-1989, fui ao salão Unidos para, sem qualquer agendamento, “fazer cabelo, barba e bigode” para uma data especial, ao menos para mim. Quem me atendeu foi Seu Paulo e ao relatar que era o dia de meu casamento, ele, após realizar os serviços solicitados, ainda aplicou um produto no cabelo, do qual não lembro, para “dar brilho”, palavras dele. Os anos foram passando e durante muitos anos foi ele, Seu Paulo, o responsável pelo meu visual.

Durante o tempo no qual estávamos no salão, esperando ou mesmo na cadeira com a navalha sobre o pescoço, discutíamos de tudo, principalmente sobre aquilo que não havia consenso, política, religião e futebol. Seu Paulo, sempre calmo, porém convicto de suas posições e pensamentos, não deixava de revelar suas convicções. Tinha uma admiração declarada pelas cidades de Santos/SP e Itaporanga D’Ajuda/SE, além de não esconder ser torcedor do Corinthians.

Seu sorriso e seu olhar sempre foram de acolhimento. Um profissional competente e assíduo, mesmo durante o natal, “ano novo” ou qualquer outro evento, nacional ou local. Muitas vezes, com o comercio “fechado”, ele baixava a porta do salão e continuava o seu atendimento.

Neste período, conheci outros profissionais como Seu Barbosa, Seu Rivaldo e Seu João que participavam de todos os assuntos. Várias polemicas eram discutidas ali mesmo, na presença dos clientes, desde as namoradas de um deles que insistiam em comparecer ao salão para pegar dinheiro, até as predileções políticas e futebolísticas. Muitas vezes o clima esquentava, para logo após, esfriar. Fechando os olhos posso ver, ainda hoje, a posição das cadeiras de cada um desses profissionais, havia uma lógica intrinsicamente aceita por todos. Seu Paulo era o chefe e a sua cadeira era a primeira, dali ele observava tudo que acontecia, dentro e fora do salão.

Há alguns anos, Seu Paulo, pelo peso da idade, enfrentando algumas enfermidades, já não estava à frente do salão, mas sua presença garantia o marco do Salão Unidos. Um trabalhador, um comentarista da vida diária, um pai de família, um cidadão comum. Um ser humano. Obrigado Seu Paulo.

[*] Professor universitário

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