Alexis Pedrão [*]
Primeiro, o resultado das eleições foi muito ruim para a esquerda, para as forças populares. No Brasil, saiu com mais força o centrão e o setor bolsonarista. Apesar da importante vitória de Lula, a extrema direita bolsonarista segue com muito fôlego e enraizada. Nas eleições atuais, buscam preparar o palanque para a presidência de 2026. Nada é mais importante no país do que derrotar Bolsonaro, seu partido e suas candidaturas. Embora nem todo eleitor de Bolsonaro seja fascista, sabemos que a direção desse movimento tem como linha política o autoritarismo para favorecer a grande burguesia do agronegócio e do mercado financeiro.
Em Sergipe, jamais esqueceremos da tragédia do governo Bolsonaro, especialmente o período da pandemia. Milhares de mortes pelo coronavírus. Fechou a Petrobrás, atrasando o desenvolvimento do estado e gerando mais pobreza. Chegamos a ser um dos estados entre as maiores taxas de desemprego do Brasil. Corajosamente fomos às ruas, realizamos uma série de campanhas de solidariedade, manifestações pelo “fora Bolsonaro” e pela primeira vez, em 2020, ocupamos um espaço político institucional com a eleição de Linda Brasil em Aracaju. Tenho orgulho de ter contribuído com esse processo à época com a candidatura a prefeito pelo PSOL. O resultado foi impactante. A nossa mensagem chegou a muito mais pessoas, dobramos as filiações do partido e tivemos a vereadora mais votada da cidade. O principal eixo da nossa campanha naquele ano foi “Primeiramente, Fora Bolsonaro!”.
Portanto, não concordo com argumentos de que “uma coisa é a eleição nacional, outra é Aracaju”, ou então “o que tem a ver Bolsonaro com Aracaju?”. As coisas estão bastante interligadas. A eleição de São Paulo demonstra exatamente como todo o movimento bolsonarista nacional está girado com todas as forças para tentar impedir a vitória de Boulos para a prefeitura. Em Sergipe, Bolsonaro foi derrotado nos 75 municípios nas eleições de 2022. Não podemos titubear nesse momento. Em Aracaju, a candidata de Bolsonaro e do bolsonarismo é Emília Correia do PL. Gravou um vídeo no dia 06 de agosto e postou no seu instagram, junto com Bolsonaro. Depois, escondeu a figura dele durante toda a campanha para não chamar atenção. Mas é do mesmo partido e já foi abraçada, desde o primeiro turno, pela grande maioria das lideranças bolsonaristas de Sergipe.
“Mas se for assim, do lado de Luiz estão bolsonaristas também como Laércio Oliveira”. Esse argumento é completamente verdadeiro. Laércio opera uma das políticas mais conservadoras e contrária a classe trabalhadora sergipana. Contudo, Bolsonaro e o bolsonarismo não tem duas candidaturas em Aracaju, somente uma, que é Emília. E isso é de uma qualidade política diferente. Assim, o PSOL fez uma opção por Edvaldo no segundo turno de Aracaju em 2020, e por Rogério em 2022 para o governo de Sergipe. Sempre que o bolsonarismo esteve de um lado, nós estivemos do outro. Não é diferente para 2024. Essa polarização é real e temos que incidir. Não temos a opção de vacilar diante da extrema-direita, um elemento político que se manifesta localmente, mas que é nacional e mundial, vide as eleições e disputas na América Latina, Europa e Estados Unidos.
Ainda temos outro argumento: “Mas Bolsonaro é Bolsonaro e Emília é Emília”. Pura verdade. São duas pessoas completamente diferentes. Inclusive Emília nunca foi linha de frente de bolsonarismo em Sergipe. É preciso ter equilíbrio e dizer as coisas como elas são. Agora dizer que são pessoas diferentes, não tem a ver com projetos políticos diferentes. Se ela não esteve tão próxima no passado, agora estão juntos. No partido de Bolsonaro só permanece quem obedece à linha política estabelecida pelo chefe. A crítica não é pessoal em relação à Emília, mas ao projeto político que está no seu entorno e que ela está representando. A política de escolas militares, de perseguição a movimentos de trabalhadores, de privatização desenfreada, de negação da crise climática e ambiental, etc. esse é o projeto político de Bolsonaro e do PL. Ademais, a história política de Emília é ligada à direita sergipana. Foi candidata em 2012 pelo DEM, fortíssima apoiadora de João Alves, que foi a pior gestão da história de Aracaju nos anos entre 2012 e 2016. E, como sabemos, João Alves foi prefeito biônico na ditadura militar. Essas são as raízes do projeto político de Emília.
Infelizmente, a esquerda enquanto programa político, está fora do segundo turno. Devemos fazer um balanço da falta de unidade e cobrar as direções partidárias a responsabilidade. Mas, dentro das condições dadas, o PSOL fez uma campanha muito forte. Inclusive o PSOL foi o partido de esquerda que mais cresceu e ampliou tanto a votação majoritária quanto a bancada de vereadores com Sonia Meire e Iran Barbosa. Junto com Camilo, serão vozes fundamentais a partir do próximo ano. Contudo, a culpa de estarmos nessa situação é justamente da atual gestão. Uma gestão que abriu espaço para que o movimento bolsonarista se apresente como “alternativa”, como se fosse “contra o sistemão”, uma conversa fiada repetida à exaustão que até mesmo tem quem acredite.
Compreendo quem não vota no candidato de Mitidieri, pois estamos em meio a diversos ataques, como o desrespeito pelas professoras/es, a venda da DESO e as denúncias de violência policial. Também compreendo as comunidades em luta e os funcionários públicos de Aracaju. Votar nulo talvez seja algo a se considerar. É legítimo, mas peço que reflitam. Há uma hierarquia na política. E repito: nada é mais importante do que derrotar a extrema-direita, Bolsonaro, seu partido e seus candidatos por todo o país. Por isso, vou votar 12. Não por defender a gestão. Seria hipocrisia de minha parte. Seguimos firmes na oposição. É possível derrotar o bolsonarismo sergipano sem nutrir ilusões com o projeto político de Edvaldo e Luiz. Mas faço o convite à reflexão: há perigo na esquina. Ainda temos tempo de evitar o retrocesso.