Por Luiz Eduardo Oliveira [*]
Há anos morando “na praia”, sempre tentei encontrar um sentido para a colocação de algumas peças, de arte, na avenida Santos Dumont, mais precisamente no canteiro central. Como um observador, leigo, apenas ciente que para qualquer ato administrativo é necessária uma justificativa, ao menos para manter os critérios de transparência e boa utilização dos recursos públicos, nossos recursos, as perguntas sempre insistiram em roubar-me a tranquilidade.
O corre-corre, o deixa para lá, o dever haver um sentido para atrair os turistas, blá, blá, blá, foi essencial para o laissez faire, laissez passer, às avessas.
Chega um dia no qual a curiosidade é crucial. Sorrateira e intermitente, ela vai deixando, deixando, até que, em um espasmo de razão ou falta dela, fui abduzido e deixe-me atrair pelas esculturas.
Estacionei o carro e percorri, durante o calor do meio-dia, nublado, de inverno, a avenida que durante muito tempo foi motivo de orgulho do sergipano.
Uma obra de Bené Santana, intitulada “Meninos do Rio Sergipe”. Apresenta-se como uma reflexão sobre uma geração que mantinha uma relação profunda com o Rio Sergipe.
Interessante observar que a apresentação da obra, já bastante danificada pela maresia, embora feita em aço corten e aço inox, faz uma ressalva para a impossibilidade da realização dos saltos, em águas deste rio, por motivos socioambientais. Como turista já ficaria desconfiado da balneabilidade dessas águas que fornecem uma parte da nossa alimentação.
Seguindo o fluxo, Coroa do Meio (Farol) para a Passarela do Caranguejo (antigo Hotel Parque dos Coqueiros) encontraremos uma pirâmide, estilo Monumento Maçônico e que ostenta os lemas da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ideais tão ameaçados na “nossa” contemporaneidade e com contradições expostas pelo grande sergipano Tobias Barreto de Menezes.
Esta obra é do artista, neopolense, Deolando Vieira e que expressa bem a situação atual da orla: “Um silêncio que fala… que clama… que apela… que agoniza e grita por socorro. ” Esse é o quadro atual da nossa capital, antiga cidade da qualidade de vida.
Chegando à passarela do Caranguejo encontraremos essa estrutura sem qualquer referência, no local, à autoria (Ary Marques Tavares) e sem qualquer explicação sobre o significado. Difícil, hoje em dia, apresentar esse crustáceo como alimento saudável, basta olhar para os nossos manguezais
E, para finalizar esse passeio, por esta pretensa galeria a céu aberto, encontramos a obra de Joubert Moraes, que nos leva a refletir sobre o “Quer saber o que é? De que é feita?
Fica o questionamento para toda a extensão da Orla de Atalaia, Orla do Robalo, em direção ao Farol, do Mosqueiro. O que queremos para Aracaju? Talvez a existência de um plano diretor nos auxiliasse… talvez.
Vamos permanecer em atalaia.
[*] Professor Universitário
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