Valmir e Emília acendem a fogueira e eleição em Sergipe sai do W.O para o pega pra capar

Por mais que Mitidieri tenha controle da base, do orçamento e da máquina, não será uma eleição de W.O, vai ter disputa, vai ter suor

Por Fausto Leite

Entre rojões, rodas de fogo, barcos flamejantes e busca-pés que mais parecem manchetes, a política de Sergipe começou oficialmente o seu São João: com bastidor fervendo, candidatura explodindo e político tentando não virar milho queimado. E quem achou que o governador Fábio Mitidieri ia curtir o forró sozinho, com direito a sanfona e vice de estimação, se enganou bonito: a fogueira da sucessão já está acesa, e tem muita gente trazendo gasolina.

Mitidieri praticamente já carimbou seu vice: o deputado Jefferson Andrade. Nome limpo, bem-quisto na Assembleia Legislativa, conversa fácil, transita com a elegância de quem não briga nem em grupo de WhatsApp. Um vice que soma sem ameaçar, o típico “cafezinho institucional” da política, agrada a base, não incomoda o trono. Até aqui, tudo bem. Só que o governador, no embalo da quadrilha, resolveu ampliar o cordão e já lançou também dois nomes pro Senado: André Moura e Alessandro Vieira. Um é velho conhecido das manchetes e bastidores, o outro, da CPI e da transparência. Se Mitidieri vai levar os dois até o altar político, só o tempo e os acordos vão dizer, por enquanto, o trio tá mais pra banda de forró do que chapa majoritária.

Enquanto isso, Edvaldo Nogueira, outrora figurinha carimbada, virou aquele par que chega tarde na quadrilha e não tem mais ninguém pra dançar. Tá de escanteio, sem grupo, sem legenda definida e com o sorriso congelado em plenário. Já a oposição, essa resolveu acender sua própria fogueira. Primeiro, os rumores: o PT, que até agora não lançou ninguém, ensaiou empurrar Candice Matos pro centro do palco mas o burburinho durou menos que estalo de biribinha. Candice negou, e o partido segue no modo observador, sentado na arquibancada da política esperando o sinal tocar.

Do lado da direita, o trem começou a se mexer. Ricardo Marques chegou a ser cogitado, mas falta capilaridade estadual e carisma eleitoral não se compra em farmácia. Thiago de Joaldo se lançou, trocou de grupo, e avisou que se Valmir de Francisquinho for candidato, ele recua. Ou seja, lançou, mas com manual de instrução e aviso de devolução em caso de candidatura forte. E Valmir… Ah, Valmir apareceu.

Foi no segundo dia da festa dos caminhoneiros, em Itabaiana, que Valmir de Francisquinho tirou a camisa de prefeito aposentado e vestiu a de pré-candidato a governador. Discurso direto, palmas calorosas e repercussão imediata: os bastidores se agitaram tanto que dizem que Fábio Mitidieri até balançou o “cloreto”, seja lá o que for que isso signifique no glossário da governadoria. Valmir tem pendência judicial? Tem. Foi absolvido em primeira instância, depois fez acordo com o MP, o TL/SE não aceitou, foi condenado. Mas aposta que no STJ tudo se resolve e não é otimismo: é jurisprudência na praça. André Moura que o diga.

O movimento em torno de Valmir ganhou adesão pública de Emília Corrêa, que foi à festa dos caminhoneiros, deu abraço, tirou foto e declarou apoio. Emília, que teve o apoio de Valmir na última eleição em Aracaju, agora retribui. Sinal claro de que a capital já começa a mirar o interior  e vice-versa. As rusgas entre os dois por causa de cargos e indicações ficaram no passado. Ou foram maquiadas, o que na política dá na mesma.

E quem apareceu também foi Edivan Amorim, do nada, do alto, do longe. Deu entrevista em Itabaiana e jogou gasolina na fogueira: disse que cinco deputados federais podem se alinhar com o PL, e que a preferência da sigla é, sem rodeios, Valmir de Francisquinho. Edivan não fala por falar. É calculista, frio e estrategista. Quando ele aponta, os outros partidos tiram a trena. Se o PL for com Valmir, a direita embarca em bloco.

Agora, tem um detalhe que vai mexer com tudo: a conjuntura nacional. Se Bolsonaro for candidato a presidente, o PL vira trator em ladeira. Valmir pode surfar nessa onda e consolidar a candidatura com o selo do bolsonarismo. Se Bolsonaro não for, a direita pode migrar em peso para Tarcísio, o governador de São Paulo. E como Tarcísio é do Republicanos, pode puxar Valmir também pro partido. Tudo depende de quem toca a sanfona lá de cima, porque no xadrez político, a rainha se move primeiro, mas o peão é quem sangra.

Ou seja: o jogo tá longe de estar definido. E Fábio Mitidieri não vai disputar sozinho. Se Valmir for candidato, é páreo duro. Se Thiago de Joaldo for, também. Se Ricardo Marques se viabilizar, idem. A verdade é que, por mais que Mitidieri tenha controle da base, do orçamento e da máquina, não será uma eleição de W.O. Vai ter disputa. Vai ter suor. E se bobear, vai ter até treme-treme no palanque. Porque, em Sergipe, o São João é de festa, mas a eleição é de roer unhas e de estourar foguete antes da hora. E Viva Santo Antônio!

Texto publicado originalmente no Fausto Leite Notícias – Foguete não dá ré: Valmir acende a fogueira e eleição em Sergipe sai do W.O para o pega pra capar – faustoleite.com.br

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