Por Francisco Diemerson [*]
Circula nas redes sociais nos últimos dias manifestações contrárias ao possível fechamento do Centro de Criatividade, espaço pertencente ao governo de Sergipe, localizado na antiga caixa d’água do bairro Cirurgia, fundado pelo Governador João Alves Filho em 1985, com um arrojado projeto pedagógico da professora Aglaé d’Ávila Fontes e estrutura do arquiteto Jaime Lerner.
A situação se dá diante da aprovação pela Assembleia Legislativa de Sergipe da Lei 9.141/2022, na última semana do ano passado, que autoriza o Poder Executivo Estadual a ceder o prédio do Centro de Criatividade ao município de Aracaju com objetivo de implementação de um Hub de inovação com espaços destinados à formação e capacitação em áreas como tecnologia da informação, empreendedorismo, inovação e economia criativa, atendendo à solicitação do prefeito Edvaldo Nogueira (ofício 62/2022/PREF-GAB).
O Centro de Criatividade exerce um papel fundamental enquanto espaço cultural fora do circuito centro-zona sul de Aracaju. É um complexo que permite uma série de ações interdisciplinares e multiculturais e que, desde sua fundação, mantém uma íntima relação com a comunidade que mora ao seu entorno. Não é somente um equipamento público, é parte essencial da história do bairro Cirurgia e das mudanças que ocorreram nas últimas três décadas.
Além disso, o Centro surgiu como um espaço de formação artística. Saindo do contexto escolar para uma outra perspectiva, com o desenvolvimento de ações pedagógicas que dialogassem com as demandas locais e também que se integrasse com movimentos e grupos culturais de diferentes linguagens, possibilitando que várias gerações tivessem seu primeiro contato com o campo das artes.
Esta dimensão social e histórica exige que a Prefeitura de Aracaju apresente realmente e com detalhes qual o seu objetivo efetivo ao pleitear a cessão do prédio e a responda a principal pergunta: o Centro de Criatividade irá ser encerrado?
Ninguém está em contra a criação de novas estruturas que envolvam tecnologia e economia criativa principalmente inseridos dentro de uma importante região como é do Cirurgia porém, a ausência de uma resposta clara sobre quais são os planos da Prefeitura sobre o uso cultural do complexo leva aos questionamentos importantes e a preocupação justa que a tradição de 37 anos daquele espaço não seja encerrada desta forma.
Além disso, é também preocupante a forma que o Estado de Sergipe gerenciou este processo. O oficio do prefeito da Capital é de 6 de julho e as autoridades estaduais mantiveram todo o processo limitado aos gabinetes, sem ouvir a comunidade cultural, sem expor sua justificativa de cessão e sem deixar evidente a importância do Centro, criando uma lei nos últimos dias da gestão que não se compromete em manter o mesmo.
As movimentações e cobranças da sociedade aracajuana portanto são necessárias e oportunas, tanto pela importância que o possível fechamento de um centro cultural, um dos poucos localizados na periferia da cidade, pode causar como também na repetida e sempre urgente manutenção do dialogo dos entes públicos com o movimento cultural Sergipano. Aguardemos.
Que o Centro de Criatividade continue firme e renovado para ser espaço rico e vivo das novas gerações.
[*] é professor, doutor em História Comparada, membro do Conselho Estadual de Cultura, da Academia de Letras de Aracaju e do Movimento Cultural da Academia Sergipana de Letras
Foto: Jorge Henrique/ASN
