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Educação Política Já!

Artigo escrito pelo professor Francisco Emanuel

Por Francisco Emanuel Silva Meneses Alves [*]

Como professor de Sociologia, neste labirinto chamado novo ensino médio e neste cabo de guerra chamado educação pública tenho vivenciado neste ano da graça de 2023 a experiência de poder trabalhar com educação política com os (as/es) jovens das segundas séries.

Como eu sempre faço questão de lembrar em sala de aula que toda educação por si só já é política, inclusive a educação doméstica. Nesse caso eu compreendo como política a formação ou ensinamento para o convívio em sociedade. Sendo assim, o jovem negro evangélico, de classe C morador de um povoado que pega um ônibus e é filho de lavrador tem uma formação política completamente diferente de uma mulher branca filha de funcionário público que mora na zona urbana de sua cidade e pode ir até a escola de bicicleta.

Lembra daquele teu tio bolsonarista que disse que a globo ensina os adolescentes que não existe mais menino ou menina? E aquele teu primo petista que disse que o Lula é do bem por ser comunista, feminista, progressista e nunca ter falado nada misógino?

E o açougueiro que disse que nunca vota porque nenhum político presta e é melhor pagar a multa que é baratinha, mas sempre reclama que tem que pagar o licenciamento do caminhão frigorífico e a licença de funcionamento do açougue?

Não podemos esquecer daquela tua prima que acabou de tirar o título e votou no deputado que deu uma “oncinha” pra ela no dia da eleição.

Todos esses exemplos nos remetem à necessidade de educar nossas comunidades para a política e para uma política de diálogo, coexistência, informação, consciência e luta.

Se mulheres não forem motivadas e apoiadas financeiramente para concorrer pra valer a cargos eletivos, como esperar que nossos homens brancos heteros deem espaço pra elas? Como cobrar melhoria de escolas e ônibus para a população mais carente se nossos agentes sequer sabem do que acontece diariamente nesses espaços?

Como cobrar inclusão e apoio a maiorias minorizadas como mulheres e negros se não temos mulheres e negros suficientes em nossas casas legislativas?

Somos todos um pouco culpados, mas também corresponsáveis por mudar essas realidades através do ensino, da arte, da comunicação e da própria militância partidária.

Ações afirmativas, medidas legislativas, órgãos de estado e medidas compensatórias não vão mudar nossa realidade desigual e cheia de opressões se não ensinarmos nossos jovens e crianças que todos, todas e todes tem um papel na mudança social que pretendemos (mais inclusão, menos desigualdade, mais equidade de gênero e mais dignidade para populações lgbtqiapn+).

Como diria Brecht, nossa ignorância sobre a política do dia a dia fortalece e interessa ao deputado bem votado que acha que 50 ou 100 votos são desprezíveis diante de suas dezenas de milhares de votos e ao militante de esquerda que ignora a importância de se desconstruir e rever os próprios preconceitos para poder dar às lutas contemporâneas a consciência e o respeito à dignidade humana que o futuro dessa humanidade em mutação acelerada pede.

Precisamos nos educar acerca dos usos das mídias digitais enquanto potenciais instrumentos de participação, debate e até de decisão, mas também na produção e veiculação de conteúdos com potencial calunioso, inverídico ou não-factual. Para isso é urgente regulamentar cada vez mais o ambiente virtual não com vistas a limitação da liberdade como brotam alguns que se aproveitam dessa não-regulamentação, mas como responsabilização de possíveis ataques, infâmias e ameaças à democracia.

Sabemos dos limites (pensados ou não) que nossa educação formal escolar impõe para uma educação política, mas é imprescindível não deixar de afirmar sempre que possível que “todo ponto de vista é visto de um ponto”, ideologia todo mundo tem e não existe conhecimento neutro e isento de valores.

[*] cientista social, articulista, comunicador político @profchicocompolitica (no instagram) e professor de sociologia da rede estadual

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