Por Uilliam Pinheiro
A máxima de que a economia era o fator decisivo para o sucesso político de um governo parece que caiu por terra com a ascensão das redes sociais. O eleitor, dizia-se, votava com base no bolso, nas taxas de emprego, no crescimento do PIB e na inflação. Contudo, vivemos uma nova era – a era digital – na qual a percepção importa mais do que os números e as narrativas moldam a realidade, independente dos fatos.
Exemplo, o caso dos Estados Unidos, onde o ex-presidente Joe Biden entregou bons números, como taxa de desemprego baixíssima, inflação controlada e crescimento econômico consistente, como apontado em matéria publicada no site Valor Econômico. Ainda assim, sua popularidade despencou e ele não conseguiu consolidar seu legado político e eleger sua sucessora, Kamala Harris. Motivo? A batalha nas redes sociais. O universo das redes sociais alimentadas por polarização e desinformação, criaram uma realidade paralela que minou a confiança em seu governo. Donald Trump contou com a colaboração de Elon Musk e plataformas digitais tornaram-se arenas de influência decisiva, reconfigurando o debate público.
No Brasil, a situação é semelhante. O governo Lula encerrou o ano de 2024 com resultados econômicos melhores do que a expectativa do mercado financeiro. A gestão Lula, com o ministro Haddad no comando da Economia, apresentou crescimento expressivo do PIB, queda no desemprego, aumento da renda e até um déficit fiscal menor que o esperado. Mas a aprovação popular de Lula segue em declínio. Isso que os números não bastam quando as redes sociais se tornam o principal palco de batalha. E para exemplificar isso, lembremos do episódio recente da medida de monitoramento das transações do Pix, onde o Governo Lula recuou frente a repercussão nas redes sociais, capitaneada pelo deputado Nikolas Ferreira.
O que importa não é apenas o que foi feito, mas como isso é contado e percebido. Na internet, onde as más notícias viralizam mais rapidamente que as boas, as narrativas negativas sobre a economia acabam se sobrepondo à realidade. Empresários que prosperam e trabalhadores que desfrutam de melhores oportunidades ainda assim ecoam que “a economia vai mal”.
A questão é que a confiança na economia — e, por extensão, no Governo Lula — não é mais moldada pelos dados, mas pela forma como as pessoas consomem informações. As redes sociais amplificam os extremos, distorcem os fatos e criam um ambiente onde a percepção coletiva é descolada da realidade objetiva.
O que esperar, então, das eleições de 2026? Mais do que um confronto entre propostas ou resultados econômicos, será uma batalha de narrativas. As eleições municipais em São Paulo e em outros municípios já deram o tom. O sucesso político dependerá não apenas de governar bem, mas de comunicar com eficácia, traduzindo dados em mensagens que ressoem emocionalmente com o eleitorado.
No mundo de hoje, não é mais a economia que define os rumos políticos. É a capacidade de conquistar corações e mentes em um terreno minado por algoritmos e desinformação. Bem-vindo à era das narrativas, estúpido!
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula