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Um Estado mediano, Sergipe

Artigo escrito pelo professor Luiz Eduardo

Luiz Eduardo Oliveira [*]

A sensação de morar em um Estado mediano e, também, em um país mediano é estranha, provoca sentimentos ambíguos. De um lado, somos quase bons em muitos aspectos e, por outro, vivemos amargando índices comparáveis às mais pobres sociedades do mundo.

Temos a impressão que o Estado vai bem, pois não paramos de promover festas, com o dinheiro público, claro, e convivemos com a certeza que enfrentamos sérios problemas na saúde, na educação, na (in) segurança pública. Nada disso parece promover uma reflexão crítica capaz de “chamar o feito à ordem”, para utilizar um jargão jurídico.

Profissionais da educação, da saúde, da segurança pública, servidores públicos (federais, estaduais e municipais), membros de poderes, de órgãos fiscalizadores, em estado de torpor com as comemorações, brincam ao extremo, com atrações vindas de outros Estados. Concomitantemente, milhares morrem no mundo, no Brasil e em Sergipe, por falta de comida, saúde e por guerras entre homens, seja pelo tráfico ou pelo controle do poder econômico. Tudo isso sendo colocado como se não fizesse parte do desenvolvimento ou da evolução da espécie humana.

Já há festas programadas para o fim deste ano e para o ano vindouro. Por aí começam as nossas contradições, pois, recentemente passamos por um período bastante difícil, mundialmente, com reflexos diretos para os países e para o nosso Estado. Aparentemente aprendemos pouco, quase nada, sobre a pandemia, Covid-19, e estamos vivendo como tudo fizesse parte de um passado bem distante.

Por tudo que nos decretaram a cumprir em nosso Estado e levando em consideração os relatórios oficiais, deveríamos, ao menos, acenar para a adoção de medidas preventivas nas áreas da educação, da segurança pública e, principalmente, na área da saúde. No caso sergipano, nada mudou e seguimos mantendo um quadro de insegurança social que não nos prepara para um futuro duvidoso e incerto.

O relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), referente ao período 2021-2022, intitulado “Tempos incertos, vidas instáveis: Construir o futuro num mundo em transformação”, pode ajudar a nossa análise sobre os próximos anos, pois o Índice de Desenvolvimento Humano, de todos os países, sofreu queda1. Somente para deixar claro que o IDH leva em consideração dados sobre saúde, educação e padrão de vida. Fazemos parte desta contemporaneidade, somos os protagonistas de um mundo onde as tentativas de novas configurações geopolíticas são mutantes e cada vez mais perigosas. Sofremos com temperaturas recordes que afetam o nosso meio ambiente e o planeta, somos atingidos por incêndios, tempestades, inundações e secas, cada vez mais incontroláveis.

Vivemos nessa perigosa mudança planetária do Antropoceno, utilizando uma expressão do químico holandês Paul Crutzen, na virada do milênio (2000), que é caracterizada pelo aumento da população, na utilização em larga escala dos combustíveis fósseis, com agricultura intensiva que utiliza uma imensa variedade de agrotóxicos perigosos à saúde, com colapso da biodiversidade, com consumo exacerbado de produtos industrializados, além do aumento de sociedades, locais e mundiais, cada vez mais polarizadas.

Um planeta que dá sinais claros de esgotamento, onde os materiais fabricados pelo homem, tais
como betão e asfalto, superam a biomassa da Terra e os micro plásticos formam lixões nos
oceanos. Já os conflitos armados aumentam, especialmente fora dos chamados contextos
frágeis e pela primeira vez na história mais de 100 milhões de pessoas são deslocados à força, a
maioria dentro dos seus próprios países2
.
O Relatório Especial sobre a Segurança Humana do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento encontrou níveis igualmente preocupantes de percepção de segurança, e não precisamos buscar relatos fora do nosso Estado para comprovar os dados. Segundo o relatório elaborado pelo PNUD, no mundo de tantas indefinições, filosóficas, físicas, estatísticas, econômicas, etc, o “Antropoceno” pode prejudicar o bem-estar mental das pessoas através de eventos traumatizantes, doenças físicas, ansiedade climática geral e insegurança alimentar.

Em nível mundial, ostentamos índices preocupantes e que deveriam provocar a adoção de medidas preventivas. No índice de Desenvolvimento Humano estamos atrás do Chile, da Argentina, do Uruguai e do Peru, isso falando em América do Sul. Em outros relatórios mundiais como o Ranking de Educação (PISA – OCDE)3 , no Ranking de Patentes válidas (Relatório da Organização Mundial de Propriedade Intelectual4 , no Ranking de Competitividade (Fórum Econômico Mundial)5 estamos em avaliações vergonhosas. Caso analisemos o quesito corrupção, estamos ente os “top 5” países mais corruptos do mundo, segundo o Fórum Econômico Mundial e a Transparência Internacional6
.
Como ficamos nós, sergipanos, diante deste caos iminente se o que nos fornecem é, apenas,
diversão? Fomos abduzidos pelo “fantástico mundo de Bobby”?

A nossa sociedade (sergipana) precisa estar conectada com as pesquisas científicas. Precisamos ouvir nossos analistas políticos, nossos mestres e doutores, nas mais diversas áreas do conhecimento. Nossos meios de comunicação precisam dialogar com os profissionais da terra sobre temáticas mundiais. Nem só de festas vive uma sociedade. Há tempo para tudo e o tempo de colheita vem sempre depois do tempo da semeadura. Segundo o evangelho há “Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar”7
.
Momento sombrio e muito perverso, pois vivemos em um Estado mediano, em uma sociedade
mediana.

[*] Doutor em Saúde e Ambiente

1 Fonte: https://www.undp.org/pt/angola/publications/relatorio-do-desenvolvimento-humano-2021/2022
2 Relatório PNUD. https://www.undp.org/pt/angola/publications/relatorio-do-desenvolvimento-humano2021/2022
3 Fonte: https://www.datapandas.org/ranking/pisa-scores-by-country
4 Fonte: https://www.wipo.int/publications/en/details.jsp?id=4594
5 Fonte: https://www.imd.org/centers/wcc/world-competitiveness-center/rankings/world-competitivenessranking/2023/#
6 Fonte: https://transparenciainternacional.org.br/ipc/
7 Fonte: Eclesiastes 3. Bíblia.

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